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Na maioria
das vezes em que pensamos em um paciente com uma amputação,
pensamos em uma pessoa de mais idade, com problemas vasculares (e
diabetes, freqüentemente) ou num daqueles “motoqueiros malucos,
entregadores de alguma tele-entrega qualquer” que fazem loucuras
no nosso trânsito e que volta e meia acabam se acidentando e, em
alguns casos, terminam por ter de sofrer alguma amputação. Porém,
existe um outro grupo de pacientes muito especial que
eventualmente também necessitam de uso de prótese e,
conseqüentemente, dos nossos serviços, as nossas CRIANÇAS.
As duas principais causas de amputação em crianças que,
somadas, correspondem à cerca de 5% dos casos gerais de
amputações, são:
01) os tumores ósseos ;
02) os
problemas congênitos, ou seja, mal formação já no nascimento, que
em alguns casos a criança nasce com falta parcial ou total de um
membro ou mal formação deste ou, em outros casos, precisa fazer
alguma cirurgia para preparar este membro mal formado para a
adaptação da prótese a ser confeccionada.
Reabilitar uma
criança com amputação é um dos maiores desafios para o protesista
e para toda a equipe de reabilitação. Mas se o desafio é grande, a
recompensa é ainda maior. Acredito que não exista nenhum tipo de
paciente onde a nossa interferência e atuação adequada impacte
mais na vida destes do que no caso de protetisar e reabilitar com
sucesso uma criança, pois não podemos esquecer de que o usuário de
uma prótese fará uso dela para sempre, pois, até o presente
momento, uma amputação é uma situação irreversível.
Não
podemos deixar de destacar que sempre que protetisamos uma
criança, não estamos tratando apenas dela, mas obrigatoriamente de
seus pais ou responsáveis também, bem como de toda família mais
próxima. Eles terão um papel fundamental para o êxito do trabalho,
fazendo merecer uma atenção e uma orientação toda especial a eles
também.
Protetizar uma criança apresenta duas
características, fundamentais, uma positiva e outra negativa que
devem ser levadas em consideração quanto da decisão ou não da
protetisação:
Fator Positivo: todos nós sabemos que as
crianças aprendem tudo numa velocidade bem maior do que nós,
adultos ou do que pessoas de qualquer outra idade. Ou seja, a
rapidez de adaptação de uma criança a novidade que uma prótese
representa é um fator encorajador para que se realize o
tratamento. Enquanto um adulto se acostumou a viver sem nenhuma
limitação até o momento em que precisou de uma prótese, uma
criança, com amputação de qualquer tipo terá muito menos problemas
funcionais (fator principal) e estéticos para se adaptar a mesma.
Geralmente, quando estamos começando a explicar e orientar a
criança de como comandar a sua prótese e como ela funciona, sempre
ela nos deixa falando sozinho e sai em disparada, experimentando,
descobrindo e usando aquele objeto novo e estranho até tirar dele
todo o potencial que ele oferece. Em suma é realmente fascinante.
Fator Negativo :- toda mãe sabe com que freqüência ela é
obrigada a arrumar a bainha da calça do seu filho ou de quanto em
quanto tempo ela se vê obrigada a trocar o número do sapato do seu
anjinho por um número maior. Pois bem, com a prótese acontecerá
exatamente a mesma coisa, porém com um custo provavelmente bem
mais elevado do que uma nova calça ou um novo par de tênis.
Portanto, como já foi mencionado anteriormente, é nossa obrigação
avisarmos e alertarmos a família desta criança sobre as possíveis
manutenções, trocas e ajustes que se farão necessários durante a
fase de crescimento da criança, bem como da periodicidade e dos
custos dos mesmos até que se atinja uma estabilidade de tamanho e
peso que permita um uso mais prolongado da prótese sem maiores
surpresas.
Quando começa a protetisar ? Existem várias
teorias sobre quando se deve começar a protetisar uma criança.
Devemos ter em conta que o nível da amputação e, principalmente,
se a amputação é de membro superior ou inferior são fatores
fundamentais para a resposta desta questão. Protetisação para
amputações de membros inferiores pode começar a partir do momento
que a criança começa a querer se levantar com a perna do lado
contrário à amputação, geralmente por volta de um ano, sendo que a
descoberta da posição de ortostatísmo (ficar de pé) e a
conseqüente liberação das mãos para as outras funções exercem um
papel significativo no desenvolvimento cognitivo desta criança. Em
relação às próteses de membros superiores, afirma-se que o
trabalho pode começar a partir do momento que a criança a começa a
sentar. Antes disso, a prótese seria um desconforto e um empecilho
para o engatinhar.
Em ambos os casos, instruir não só o
paciente (quando cognitivamente possível), mas também a sua
família, exerce um fator fundamental no percentual de sucesso que
se consegue nestes casos. A escolha dos componentes também
representa um papel importante de êxito no tratamento. Escolha dos
componentes, para crianças em geral, que mantém um nível de
atividade muito alto e intensivo, tudo o que desejamos é poder
possibilitar aos nossos jovens clientes que continuem com o seu
ritmo frenético de viver, sinal de que a prótese que
confeccionamos está desempenhando o seu papel a contento. Por
outro lado, este fato nos remete à responsabilidade de sabermos
escolher componentes para a prótese que tenham um peso compatível
com o da criança, mas, principalmente, que resista a todas estas
atividades que esta criança voltará a fazer com o uso da mesma. É
uma de nossas principais funções, dentro da equipe
multidisciplinar de reabilitação estarmos atualizados em relação
aos componentes disponíveis no Brasil e no exterior para podermos
oferecer à família do pequeno paciente o que houver de mais
adequado para o seu caso. Além disto, temos que levar sempre em
conta o grau de coordenação motora e cognitiva que cada criança
apresenta em função de sua idade e de seu desenvolvimento,
evitando utilizar componentes tecnologicamente inadequados ou
demasiadamente sofisticados para o grau de entendimento de seu
funcionamento por parte da criança. Muitas vezes, opta-se por
começar com componentes mais simples, para posteriormente aumentar
o grau de sua complexidade e funcionamento, muitas vezes atrelados
a cuidados quanto a sua manutenção e uso adequado.
Enfim,
quando o seu próximo caso de protetisação de uma criança lhe
aparece, lembre-se destas sugestões que, com certeza, lhe trarão a
recompensa merecida e ter mudado para sempre e para melhor a vida
de uma criança, sentimento este que dinheiro nenhum no mundo pode
pagar.
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